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As nossas levadas

FilipeSousa3




Susana Fontinha

As nossas levadas...
Quando nos falam em levadas, de imediato nos lembramos dos agradáveis passeios na ilha da Madeira, relativamente planos, que nos convidam a uma continua descoberta da natureza e da cultura da nossa terra.

Passeios esses deslumbrantes, que ligam o norte ao sul da ilha, por vezes atravessando o maciço montanhoso central, serpenteando vales e montanhas, por entre floresta primitiva, como a Laurissilva, e o ambiente rural, onde se destacam os pitorescos poios com os seus muros de pedra emparelhada.

Mas as nossas levadas são muito mais do que uma agradável via de usufruto das multifacetadas paisagens madeirenses. Consistem em canais que transportam um bem essencial à vida, a água, que nós consumimos diariamente, que é usada na irrigação agrícola e no restante regadio, bem como para acionar alguns engenhos tradicionais, como os moinhos de água e a serragem de água da Achadinha, em São Jorge, e ainda para a produção de energia hídrica nas nossas centrais hidroelétricas.

As levadas da Madeira representam um exemplo tecnológico singular nos modos de ocupação humana numa ilha do Atlântico, que ao longo de cerca de seis séculos soube aproveitar os recursos naturais, como a água e o solo, e contornou a adversidade da sua condição orográfica para possibilitar as condições necessárias à habitabilidade do ser humano desde o século XV, e ao seu desenvolvimento socioeconómico.

À volta das nossas levadas existem estruturas adjacentes que fazem igualmente parte do património cultural madeirense, como sejam as galerias, as casas de abrigo, as casas de água, as furnas, poios, os poços, as caixas de decantação, caixas de divisórias de água, a serragem de água, os moinhos de água e as centrais hidroelétricas. Igualmente relevantes são as estruturas de rega que podem ser encontradas por toda a ilha, nomeadamente as regadeiras e os tornadoiros. Tudo isto está relacionado com o sistema de gestão da água e a sua lógica distributiva, tão singulares, que o distinguem de outros sistemas no mundo.

Também associado às nossas levadas, existe um vastíssimo património imaterial, incluindo a componente linguística, com termos e expressões que só a população madeirense compreende, assim como tradições, lendas e narrativas, carregadas de relatos de vida que se perpetuam no tempo e passam de geração em geração.

Podemos dizer que, com aproximadamente seis séculos de existência, umas mais antigas, outras mais recentes, as levadas fazem parte da história da Madeira, acompanham a história da humanidade, são indissociáveis da identidade dos madeirenses, e levam, até cada um de nós, um bem essencial à vida, a água.

Por tudo isto e principalmente por estar garantida a salvaguarda do seu Valor Universal Excecional, no presente e para o futuro, a 18 de janeiro de 2023, a Região Autónoma da Madeira, através da Secretaria Regional de Ambiente, Recursos Naturais e Alterações Climáticas, apresentou a candidatura das Levadas da Madeira à Comissão Nacional da UNESCO, que na atualidade está no Centro do Património Mundial da UNESCO, de modo a ser analisada e,  esperamos, vir a integrar a Lista do Património Mundial.

A candidatura apresentada por esta Secretaria Regional resulta de um trabalho efetuado por equipa multidisciplinar composta por elementos de várias entidades, que ao longo de três anos se dedicou, de forma profissional e apaixonada, a percorrer, estudar e escrever um documento que pretende honrar e valorizar as nossas levadas.

 

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T.: (+351) 291 220 200
F.: (+351) 291 225 112
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